terça-feira, 24 de março de 2009

A educação contemporânea e seu câncer

Prof: Wanderson Cleiton do Carmo.

Para avaliarmos o processo político pedagógico da educação contemporânea brasileira, temos quer ter definições estratégicas e dinamizadas, com parâmetros bem traçados e definidos de onde queremos chegar, o que buscamos e principalmente, o que deve ser remodelado, redefinido ou simplesmente construído.
Educar é preciso e assim sempre a de ser. Quem receberá esta educação e quem irá oferecê-la é que faz a diferença. O educando nem sempre tem a definição adequada do venha ser o aprender em sua percepção, sendo esta talvez, a mais árdua tarefa do educador, que nos dias atuais não lida apenas com os conhecimentos básicos e específicos de sua disciplina de formação. Educar são varias definições, diversos conceitos e uma eterna busca. Como ser um bom educador? Esta pergunta muitos já fizeram, alguns já ousaram responder e certamente terminaremos nossos dias sem a considerável resposta. Certamente temos que encararmos o educar como profissão, dever, troca, devolução, e por muitas razoes ou situações como sacerdócio.
“Quais os principais problemas da educação atual e como resolvê-los”. Esta frase esta tão batida quanto os discurso dos políticos oposicionistas. Os problemas da educação são os mesmos de sempre, não existe novas “dores de cabeça”, são as mesmas de todos os tempos, apenas em novos formatos ou embalagens que combinem com os anos atuais. Os grandes problemas da educação são os seguintes: falta de estrutura física das escolas, mal formação profissional e capacitações, desmotivação pedagógica, social e psicológica do aluno e descontentamento profissional e salarial do educador. Estes são os pontos chaves que geram todo o desconforto acadêmico e social em torno da educação, sendo também, geradores de outros males que afetam diretamente a comunidade escolar. Em todo o mundo os congressos sobre o tema discutem a mesma coisa, chegam sempre as mesmas conclusões e acreditem, nada muda.
Palavras apenas não bastam, é preciso muito mais, necessitamos de ação, coragem e atitude. O educador precisa urgentemente resgatar seus valores e suas definições de vida. Nada dá para ser um mestre pela metade, muito menos, um profissional mais ou menos. E é a definição de destas duas palavras que necessitamos resgatar, pois, em algum lugar do passado ela já fez parte dos nossos ideais. Mestre e profissional. Em das duas você atualmente se encontra, ou não se encontra mais?
Reformulemos a idéia de um mestre, que segundo as definições do dicionário, é aquele que ensina, um artífice do saber, um sábio, um construtor. Analisando esta definição, pergunto novamente a você, onde é que você se encontra dentro desta concepção? Tudo bem se você não se encontrou dentro da definição de mestre, que tal a definição de profissional?
O resumo da palavra profissional é, capacitado em determinada área, que oferece seus serviços ou conhecimentos, lucrando-se do mesmo e realizando-se com o exercício de seu oficio. Bem para muitos palestrantes a palavra é muito alem desta sinopse, mas por hora estes conceitos nos bastam. O certo é que, será que estamos sendo profissionais ou assim como a maestria também se perdeu?
Não existe caminho quando não sabemos onde queremos chegar. Estamos perdidos há vários anos dentro do processo educacional e todos estamos perdendo com isso, a sociedade, os estudantes, o governo e os educadores. Para a realização de políticas educacionais serias, necessita de idéias serias e pessoas comprometidas e capazes. Engana-se que apenas verbas mudam os rumos da educação, ajuda e muito, mas não muda. Os problemas de sempre precisam ser focados e trabalhos um por um, passo a passo, cada um há seu tempo e de seu modo.
Necessitamos de mais atitude e ousadia para a conquista dos ideais. Os alunos sempre serão nossos clientes e vamos ter que nos atualizarmos, os tempos são outros, tempos onde o cliente “sempre tem razão”. Esta razão não é no sentido que devemos os bajular e concordarmos com todas as suas atitudes e ações controvertidas como acontecem infelizmente em algumas escolas particulares, onde por medo de perder o cliente, aceitam que os mesmos façam suas regras. Mas precisamos olhar para este educando como cliente a partir do momento que o mesmo mostra insatisfação com o produto, e que produto é este? O conhecimento. É isto que temos a oferecer, o conhecimento, sempre, podemos oferecer outros produtos embutidos no pacote, como; carinho, amizade, companheirismo, entre outros que sempre serão bem vindos e é ótimo termos, mas o nosso carro chefe, sempre será o conhecimento. Esta definição esta desacreditada. Atualmente o professor está assumindo o papel parcial ou em alguns casos, total dos pais, que a cada dia que se passa perde cada vez mais sua autoridade e sua concepção de pai e gerenciador de uma família. Estamos assumindo papeis que não nos pertence, somos professores, nunca esqueça disso. A grande culpa de assumirmos estes papeis na verdade não é do governo, dos patrões, diretores, pais desestruturados ou da sociedade, a grande culpa de assumirmos estes papeis é nossa, que simplesmente nos omitimos diante das situações e por acreditarmos que não há saída, abraçamos as causas mais diversas e confusas que a sociedade possa oferecer. Não é papel do profissional da educação de ser psicólogo, assistente-social, advogado, aconselhador de casal, padre ou qualquer outra função que diariamente nos chegam às mãos. Podemos sim colaborar e por que não ajudarmos, mas assumiremos papeis alheios a educação, jamais. Enquanto as escolas perdem grande tempo discutindo o que irá fazer com a desestrutura da família Silva - por exemplo - a educação do filho desta família e tantos outros que nada tem a ver com os Silvas, esta ficando de lado. Tudo bem em pensar que sou um insensível, desumano, covarde ou inconseqüente, uma vez que se este pequeno Silva passa por problemas, certamente não estará rendendo da forma necessária. Mas o que quero dizer, é que não é errado ajudarmos e nos oferecemos como mediadores de determinadas situações - claro que não - afinal a escola ainda é um dos pilares da sociedade, o que tento levar a reflexão é o papel da escola e do professor, pois se a família Silva tivesse acesso aos bens e serviços públicos, este não seria um problema direto da escola. Toda a sociedade tem que dividir as mazelas de seu povo, não somente a educação. Como formadores de opinião e membros intelectuais que constituem esta sociedade é que devemos não aceitar tais funções. É obrigação do estado e de todos, cuidar do bem está de sua gente, todas as entidades devem cumprir seu papel. A escola tem sim uma missão incrível de ser a ponte entre sociedade e estado e isto também está cada vez mais de lado, necessitando ser resgato. O mestre é a parte intelectual e pensante desta sociedade e enquanto não agir como tal, nada seremos, a não ser meros figurantes que carregam os mais diversos pesos nas costas e ainda pergunta o porque?
Onde está a igreja, que por séculos derramou sangue pelo domínio do poder? Esta indagação não é provocativa nem mesmo ofensiva, mas apenas questionadora e não falo apenas de uma fé, mas de todas as seguimentações religiosas e dominadoras, esta instituição tão rica em valores humanos, éticos e sacros está omissa a uma serie de coisas, entre elas, a família. O surgimento de centenas de outras doutrinas religiosas pelo país poderia criar uma verdadeira explosão de transformação social, mas o social – ao meu ver – está ficando para as arrecadações financeiras para as manutenções dos veículos de comunicação, para a construção de novos templos, enriquecimento em nome de Deus, etc... Às vezes pergunto, onde Deus está nisto tudo, pois de que adiante ganhar todo o mundo e perder uma alma. As almas sedentas por conhecimento, estão se perdendo e não estamos vendo as religiões se rebelando contra isto. Não quero de maneira alguma colocar a culpa na igreja pelo desmoronamento da sociedade, de jeito algum, mas apenas gostaria de ver esta detentora de tanta força, reagindo e ajudando um pouco mais. Mas aqui minha função não é encontrar culpados ou ficar bombardeando alvos, muito menos ficar colocando meu ‘achismos’ em debate, procuro apenas criar novos horizontes sobre um universo tão grande que gira em torno da educação.
Quem é culpado pelo caos educacional, o governo, a igreja ou os pais? Esta resposta eu não sei, mas prefiro pensar que eu tenho minha parcela de culpa e tenho que contribuir de alguma forma para que as melhoras possam surgir. É fácil transferirmos as culpas e talvez fazemos isto durante toda a vida, mas quando encarar a verdade e de cabeça erguida dizermos, eu sou culpado, eu também sou errado, eu tenho alguma culpa? Será que é fácil dizer isto e assumir uma nova postura, reagir?
Os caminhos para as mudanças podem ser vários e também podem não ser nenhum. Ninguém tem a receita. O que funciona em um município, não quer dizer que ira funcionar em outro. Nosso país é tão extenso e com tantas diferenças, que às vezes até me pergunto ser professor no sul, tem o mesmo sentido que no norte, mas sei que são surtos psicóticos passageiros, pois professor é professor em todo o lugar, podem talvez, agregarem valores, conhecimentos e culturas multi-regionais, mas seremos eternamente professore, lembre disto.
As prefeituras gastam horrores com licitações nem sempre transparentes, com a contratação de empresas de consultorias educacionais, com o intuito de reciclarem seus professore. Certa feita ouvir dizer que o ser humano não é lixo para ser reciclado. Talvez esta idéia de reciclagem oferecida pelas empresas é não crie o resultado esperado. Os consultores, muitas vezes até de outros estados, tentam passar o tempo todo, formulas e receitas ditas infalíveis para o melhoramento e o rendimento na sala de aula. Algumas coisas dão certo, pois partem do principio básico da psicologia e da pedagogia, mas na maioria dos casos, é um investimento não muito bem aproveitado, vejamos porque: a maioria dos professores participante, fazem parte do grupo de aprimoramento – vamos assim chamá-lo – por comprimento de horário, por determinação superior, por medo de assinarem advertência ou perseguições, por oportunidade de sair durante o período da sala de aula, pela gratificação financeira ou indicativa que o curso proporcionará, alem de outros vários motivos. Então pergunto, como um profissional poderá reter conhecimento e mudança de mentalidade desta forma?
Por mais que resultados sejam cobrados das escolas e dos professores, nada mudará se o pensamento organizacional e gestor não mudar. O professor, nem ninguém, aprenderá novas formulas sem o seu próprio consentimento. O profissional desmotivado por qualquer que venha a ser o motivo, jamais chegará ao seu Maximo de rendimento.
Em muitas situações, um ajuntamento de membros da comunidade para um aprimoramento profissional, às vezes, gera mais resultados do que os grandes consultores existente por ai a fora, que usam frases de efeito, exemplos da Inglaterra e metodologias totalmente inviáveis para nossa realidade cultural, estrutural e financeira. Não penso que tais consultorias é um desperdício total, só penso que o profissional é que tem que decidir buscar estes novos recursos, que como estava dizendo, muitas vezes estão ao nosso redor e nem percebemos. Quando buscamos ajuda da comunidade, acho que procuramos pessoas erradas. Geralmente as pessoas mais ilustres do bairro ou da cidade é que são convidadas para participarem da mesa redonda sobre os desafios da educação local e emitirem opiniões – que na maioria das vezes não são utilizadas - sobre a questão. O pastor, o juiz, a medica, o empresário, o prefeito são pessoas sem duvidas importantes para a comunidade, mas será que vivem a realidade da comunidade escolar. Nestes encontros para traçarem o rumo da instituição, pergunto, onde está o presidente da associação de bairros, o atendente da banca de revista, a cabeleireira, a benzedeira, o farmacêutico, enfim, pessoas do povo e que vivem de forma direta com o nosso publico, que poderiam nos ajudar muito mais. “O segredo do bolo pode ser encontrado na simplicidade da receita”. Temos que dá o braço a torcer e convirmos os diretores de outras escolas que tem experiências de sucesso e pedimos ajuda para encontrarmos o caminho das pedras. Por que não buscarmos orientações com a professora aposentada, que certamente passou por muitas coisas. Os empresários que começaram pequenos em nossa comunidade e hoje são bem sucedidos, qual o segredo da gestão? Não damos o braço a torcer, não somos humildes para pedimos ajuda, preocupamos demais com que os outros vão pensar e com as arranhaduras de nossa imagem.
Ser gestor de uma instituição é liderar uma equipe que todos os dias enfrenta grandes desafios e não pode fracassar. A pressão que um professor passa é muito grande e o gestor deve ter esta consciência e dividir este fardo. Muitas escolas perdem grandes mestres pela altivez e soberba de seus diretores e na verdade ninguém é diretor, são apenas ocupantes de um cargo que passa. O gestor deve encarar sua missão, não para ser o melhor que a escola já teve, mas como o mais inteligente e sábio. O bom diretor não é o que ampliou o pátio e cobriu a quadra, mas o que conseguiu as melhores notas nos exames nacionais, o que manteve a melhor equipe, o que motivou seus subordinados, o que foi parceiro do profissional na hora difícil, o que lembrou de ser humano com os funcionários, o que cuidou do prédio e não esqueceu dos alunos, este é o bom diretor e sempre será lembrado, pois foi mais que um gestor que pendurou seu retrato na coleção dos ex, mas foi um líder.
Falar dos processos de educação, às vezes, se torna complicado por demais, não existindo uma razão, um porquê, nem maneiras para tentarmos achar explicações exatas e precisas, tentando dar uma resposta ao porquê desses processos educacionais se tornarem tão complexos, pois se formos avaliar a educação de uma maneira geral, de uma forma globalizada, ela, por si só, se torna complexa.
Já não vivemos mais em um tempo em que devemos achar ou imaginar que a educação é somente o ler e o escrever, pois hoje em dia é exigido de nós, profissionais da área do ensino, muito mais do que a capacitação da leitura e da escrita. Hoje em dia recebemos a incumbência e a missão de propiciar ao indivíduo aos seus relacionamentos humanos e, mais que isso, temos que capacitá-lo para que ele possa responder à altura que esperamos em meio à sociedade.
Mas, na verdade, o que é que esperamos? Que o resultado de todo um processo de aprendizagem possa ser coroado com o estigma de que, de alguma forma, participamos da formação do caráter de um indivíduo de bem para a sociedade.
E quando trazemos dentro de nós este objetivo, este ideal, conseguimos então ter uma visão unidirecional sobre a educação, visto que já foi-se o tempo em que o magistério deveria ser interpretado como sacerdócio, na opinião de algumas pessoas, mas essa velha frase não nos leva a despertar o pensamento para analisarmos, enquanto formadores de cidadãos, alimentando outros objetivos dentro de uma sala de aula, e não somente aquele de “venci mais um dia, venci mais uma jornada e meu dia está ganho.”
Na verdade, não podemos olhar sala de aula somente como mais um dia ganho, porque não é assim. Na realidade, ela é uma grande surpresa se pensarmos no quanto também somos dependentes dela, não só no aspecto financeiro, mas todo professor, assim como todo aluno indisciplinado, necessita da escola para sua sobrevivência enquanto pessoa.
Embora pareça soar muito forte em nossos ouvidos, parecendo algo impensado ou irracional que digo, mas não é. Somos dependentes daquilo que nos faz sentir úteis para o próximo, para a sociedade. Não somos simplesmente os ensinadores da leitura e da escrita. Somos colaboradores da formação de uma nação, e como precisamos nos agarrar a esta idéia, nos apegarmos a este princípio e vencermos inúmeras barreiras que o sistema educacional apresenta hoje.
Assim como já dito, do professor e sua necessidade da escola, também digo sobre o mau aluno e necessidade do mesmo da escola. Recentemente, algumas pesquisas apontaram que uma porcentagem dos alunos menos interessados ou indisciplinados no ensino fundamental e parte do médio, quando chegam na fase adulta, no vestibular, não é de se espantar que suas escolhas sejam pelas áreas do magistério, e é neste ponto que faço dois pensamentos: a necessidade do ambiente escolar – é ali que esse indivíduo se sente valorizado como pessoa, pois é um ambiente em que é compreendido, não é discriminado, não é julgado, não é excluído da sociedade, pelo contrário, é incentivado a crescer, a amadurecer, sendo cobrado em suas atitudes, razões, e muitas vezes isso não é encarado por esse ponto de vista, mas, muitas vezes, nossos alunos necessitam justamente disso, ser incentivados, estimulados.
Não podemos somente cobrar, cobrar, cobrar, sem sabermos, talvez, o que estamos cobrando. Somos espelhos de uma sociedade que ajudamos formar, e o que estamos ajudando a refletir, ou o que nossa imagem reflete para esse indivíduo em construção?
Quanto ao segundo pensamento a que me referi, sobre o aluno que, para muitos não vai dar em nada e, quando nos damos conta, nos deparamos com o mesmo na sala dos professores, alguns anos mais tarde, e em tom irônico, assustado, estarrecidos perguntamos: “o que faz por aqui?”, e ele responde: “sou professor também, esse ano trabalharei com você.”
O que passa na cabeça de quem vive essa situação seria uma pergunta espantosa:”mas como isso é possível?” ou então “não é possível!”. Entretanto, essa possibilidade, essa realidade que tem surgido, também é com desmerecimento em nível superior dentro das universidades, que se proliferam-se nos lugares mais longínquos dessa nação, de forma desestruturada, desorganizada, mas de forma capitalista, com fins somente lucrativos e, em muitos casos, eleitoreiros.
Então, a percepção que se tem é de que os cursos de magistério estão tão desmerecidos dentro do contexto de seriedade que os mesmo mereciam que se tornem mais baratos, de custo fracionado, pois, se assim não for, corre-se o risco de fecharem suas portas, como já tem acontecido em muitos casos.
Assim, esse aluno que é cobrado pela sociedade para ter um curso superior, um diploma, uma profissão, um futuro, optam por alternativas, e muitos são os casos em que essa alternativa torna-se o magistério, que também, por sinal, dentro dos campus universitários passam por uma nova transformação, na qual é cada vez mais comum a ausência do aluno, nos chamados cursos à distância ou semi-presenciais, mas não vamos aqui abrir este novo leque, pois a discussão é ampla. Em uma nova oportunidade falaremos sobre isso.
Entretanto, gostaria de analisar esse aspecto desse novo professor que chega no mercado de trabalho, quais são as suas esperanças, seus anseios, sua dificuldades, suas necessidades. São perguntas que não são feitas para este profissional, muitas vezes sem qualquer experiência concreta em sala de aula, caem de pára-quedas, através de um concurso público ou, então, por muitas vezes, por camaradagens e favorecimentos, mas na prática, o que esse formador de cidadãos tem a oferecer, ou a receber, além de seu salário questionado em qualquer esfera social desta nação.
É extremamente comum ou natural um professor desdobrar-se em duas ou mais escolas, durante o dia, à noite, ou até mesmo em outros trabalhos além do magistério, inclusive nos finais de semana, para que ele possa viver com o mínimo de dignidade, enquanto governadores e prefeitos os enxerga somente como cidadãos reclamadores, não de direitos, mas questionadores de benefícios, que, a seu ver, sempre são acima do necessário.
E já que entramos nesse pensamento governamental, seria importante analisarmos os projetos e pensamentos, dentro do quesito governo, para a área educacional, e gostaríamos muito de saber o que pensam, o que esperam, quais os resultados de tantos projetos que tentam implantar para um período de médio a longo prazo. As propagandas eleitorais são bonitas e vendem uma realidade inexistente.
Os secretários de educação, quer na esfera federal, estadual ou municipal, em oitenta por cento dos casos, determinam o padrão intelectual e educacional deste país, mas nunca pegaram em um giz para preencher um quadro negro.
Os gestores da educação desta nação, que determinam os rumos de alunos e professores, nunca lecionaram em uma sala de aula. São realidades extremamente diferentes de suas vidas, de seus mundos, de suas profissões, de suas habilidades, o que faz, sim, a diferença. E é uma diferença em que nós estamos a pagar.
Não é de se estranhar que muitas vezes somos obrigados a colocar em ação determinados projetos elaborados por, sabe-se lá quem, com quais critérios, que nós sabemos que não dará o resultado esperado.
As escolas estão sucateadas, e não somente em termos físicos e financeiros, mas também nas idéias, pois a maioria dos gestores escolares, dos diretores de escolas, são pessoas que ainda não entenderam ou não interpretaram a nova linguagem do mercado de trabalho, que é a de cooperação, parceria, união, diálogo.
Não podemos generalizar de forma alguma, porque a esperança é que isso mude, mas digo, que na maioria dos casos são pessoas simplesmente apegadas ao poder que tal cargo lhes proporciona, se é que podemos dizer que isso gere algum poder.
Não aprenderam até o presente momento a serem líderes, pois ainda colocam em ação a idéia de chefe, que já está falida. E se você não tem liderança nesse grupo de professores que compõe cada escola, você não tem respeito dos mesmos, e na maioria das milhares de escolas existentes neste país o que impera é o medo dos chefes de mentes arcaicas, endurecidos pelos resquícios de uma ditadura militar, arraigados dentro de filosofias político-partidárias e temerosos de perder este “poder”, ou medo de não serem mais.
E vale sempre ressaltar que o respeito não se impões, se conquista, e já passou da hora dos diretores escolares terem a percepção de que devem tornarem-se gestores escolares, líderes, motivadores de uma equipe, molas propulsoras de uma escola de sucesso, pois assim como os alunos se espelham em nós, professores, também nós, pelo sistema natural da razão, temos que nos espelhar em quem nos lidera.
E esta fica como uma questão em aberto: quem tem nos liderado, quem tem estado à frente da escola onde eu me encontro? Pois depende, em muitos casos, do sucesso deste, para o meu sucesso com o outro, mas o sentimento é o contrário, esperam o sucesso do outro, de mim, para que alcance o seu.
Mas não dá mais para vivermos de forma individualizada, dentro dos parâmetros do ensino. É momento de troca, de compartilhamento, temos que perder o medo de dividir o conhecimento, porque este sempre foi o pensamento existente, de que se o outro tiver os mesmos conhecimentos que eu, ou um pouco mais, ele vai tomar o meu lugar. Contudo, sempre existirá lugar para que é bom, é capaz, para pessoas que se disponibilizam para fazer o que se propõe.
O egoísmo profissional deve ser superado porque enquanto não começarmos a quebrar as barreiras entre nós profissionais do ensino, não conseguiremos quebrar barreiras dentro do próprio ensino. São inúmeras as paredes que precisamos derrubar, mas derrubá-las é de certa forma fácil, difícil é deixar a casa em ordem.
Onde queremos chegar, quais são nossos objetivos enquanto educadores, que tipo de cidadão estamos ajudando formar, o que queremos profissionalmente, qual o grau de satisfação que estamos tendo enquanto educadores?
Será que ainda conseguimos sonhar com dias melhores, ou situações melhores, que elevem nossa estima para continuarmos no sacerdócio educacional? Essas são algumas perguntas que devemos fazer todos os dias, antes de entrar em uma sala de aula, não com o pensamento de vencer mais um dia, mas com o pensamento de que naquele dia dividimos nosso conhecimento e ajudamos a colocar mais um tijolo na construção de um prédio de caráter, de ética e de cidadania de um indivíduo que estaremos, de alguma foram, colocando na sociedade.
Por mais perdidos que os sentimentos possam parecer, por mais confusos que eles mostrem-se neste momento, onde a educação perde seus parâmetros, eu, enquanto educador, não posso perder o meu alvo, a minha meta, pois se perco meu direcionamento, não vou conseguir direcionar meus alunos.
Mas ainda sou o espelho no qual eles olham, e alguma coisa tenho que refletir, senão meu próprio sentido de ser se perde, e se perdendo, perco também a própria razão.
Vamos analisar a partir de agora a questão aluno e escola. E são inúmeras as formas de abordagem que podemos pensar para definir, refletir, ou imaginarmos diante do contexto escola X aprendiz, ou até mesmo aprendiz X educador, e assim de forma sucessiva.
Mas o intuito passa a ser definirmos, de alguma forma, como o aluno vê a escola, a educação, de forma contemporânea. Quais são os novos rumos e quais devem ser as novas abordagens a serem adaptadas dentro de sala de aula.
Se começarmos a analisar crianças e adolescentes dos tempo de hoje, iremos notar de forma gritante o quanto tudo mudou do nosso tempo de escola aos dias atuais, e é um grande erro imaginar que tudo continua da mesma forma.
Centenas de escolas ainda acreditam que jovens e crianças do passado são os mesmos. Professores e gestores mal adaptados com a nova realidade dos tempos modernos abordam o que podemos chamar de clientela, de uma forma arcaica, vazia e ultrapassada, dentro dos moldes que a educação hoje exige.
O grau comparativo que se tem na sociedade é muito errôneo, pois constantemente iremos ouvir, de inúmeros integrantes dessa mesma sociedade, a frase: “no meu tempo não era assim...”. E de forma bem lógica e clara, temos a definição e a compreensão de que realmente em determinado passado não era assim.
Não adianta querermos comparar a juventude atual com a dos anos sessenta, pois lá enquanto grande parte dos professores dançavam o iê-iê-iê, achando que isso era rebeldia, hoje, dentro da sala de aula, os alunos tentam ouvir a banda Sepultura em último volume.
Precisamos compreender e aceitar que vivemos em um novo tempo e precisamos ter, criar e adaptar em nosso sistema didático novas fórmulas para atrair esta nossa clientela.
Agora, imagine você, os adolescentes e jovens de hoje em dia são extremamente frustrados, o que nos leva a perguntar: será que eles têm outras alternativas a não ser viver uma vida frustrante?
Já passamos do período de grandes conquistas, em que maioria de nós, de alguma forma, teve que participar. Tivemos de ir para a rua lutar contra um ditadura, contra uma regra de conduta na sociedade, na qual não aceitávamos. E hoje, nossos adolescentes não sabem sequer o que é democracia, e como é difícil tentar colocar esse conceito dentro da concepção e do contexto de vida dos mesmos.
Tivemos que ir para as ruas com as caras pintadas para pedir o fim de um governo que trouxe a esperança almejada, que jurou revoluções e mudanças éticas dentro da política, e não honrou seu compromisso. E se hoje, para nós, tudo isso é lembrança, para eles é passado.
Precisamos, então, começar a entender que nossas recordações não são recordações das pessoas às quais nos dirigimos, que tentamos guiar. Hoje em dia nossos jovens não lutam por nada, não têm ideais, sonhos.
Sempre me pergunto: onde estão os idealismos? Quando não se sonha, não se luta. Sem luta não há conquista. Mas também de que importa a conquista quando não se tem nada a conquistar a não ser a vida dentro do cotidiano ou da filosofia de viver um dia por vez.
E é assim que vejo os jovens de hoje em dia: simplesmente acreditando em um dia por vez, sem pouco importar-se com o dia de amanhã. E deve ser muito frustrante ser jovem nos tempos modernos, pois o tempo todo ouve-se as seguinte frases: “no meu tempo não era assim..., as músicas dos anos 80 eram muito melhores, isso não é cultura, chama isso de moda?, isso é música?” , e assim infinitas outras frases que deve ser muito frustrante ouvir.
Tentemos imaginar então dentro da cabeça de um adolescente, ouvindo tudo isso, alguém dizendo: “olha, a sua vida não tem graça nenhuma, ela não tem nenhum sentido, porque a minha é que foi bacana, a minha juventude é que foi boa, no meu tempo de escola era melhor...”
Por que será que não dá pra fazer desse nosso tempo também um tempo melhor? Temos aí algumas pesquisas que foram realizadas por universidades de renome, que demonstram que o grau de concentração dos alunos nos dias de hoje, não é o mesmo dos alunos de vinte anos atrás. E há vinte anos atrás esse nível de concentração era de cinqüenta minutos e hoje em dia as aulas são baseadas em cinqüenta minutos, acredito eu, que a pedagogia de anos atrás adaptou essa grade de tempo justamente pensando nesse grau de concentração.
Mas nossas crianças, hoje, vivem uma nova realidade. Pesquisas recentes demonstram que o grau máximo de concentração de uma criança atualmente é de seis minutos. E seis minutos é a base que temos dos programas televisivos, então começamos a interpretar como a máquina chamada televisão está tão adaptada à educação dos nossos filhos.
As crianças de hoje em dia, na maioria dos casos, não têm a presença paterna, e muitas também, não têm sequer a presença materna, sendo que não podemos dizer somente filhos de pais separados, mas sim pais modernos que não têm mais tempo para os filhos.
As famílias já não se reúnem mais, não conversam mais, noventa por cento dos pais de adolescentes não saberiam responder dez por cento do que os filhos gostam, pensam, praticam, fazem.
Vivemos em uma sociedade sem identidade, e essa mesma sociedade estamos dando de presente para a nova geração? Entretanto, não podemos descarregar toda a culpa do mundo em cima de nossos adolescentes e jovens, que temos que encarar diariamente dentro da sala de aula. Eles não têm culpa da sociedade frustrante que receberam de herança. E quando vejo um aluno fracassado em notas acredito piamente que cinqüenta por cento desse fracasso pertence aos pais.
Mas a escola não é um lugar atrativo. Imagine você que nessa era das músicas compactadas em um pequeno aparelhinho do tamanho de uma caixa de fósforo, na qual cabem mais de cinco mil músicas, na era dos games, da Internet em alta conexão, dos amigos virtuais, e assim sucessivamente, imagine você falando de coisas onde ele não consegue enxergar nenhuma objetividade para a realidade da sua vida.
Então temos que pensar em como conquistar esse adolescente, esse jovem. Recordo-me que no início de minha carreira como professor havia uma sala de sexta série, que era muito indisciplinada. Então, humildemente, na sala dos professores, abordei uma professora de meia idade com vasta experiência dentro do magistério e pedi auxílio para que pudesse conduzir de forma adequada aquela sala, onde ela mesma obtinha tanto sucesso, perguntando-lhe qual a pedagogia que ela usava para aquelas crianças e meu choque foi tamanho quando ela disse que usava a pedagogia do grito.
Chocado com a resposta, tentei usar outros métodos que deram resultado na sala e alcancei sucesso. Mas apresentei este exemplo somente para ilustrar como as pessoas ainda encaram a sala de aula.
Por muitas vezes temos que entrar dentro deste mundo dos nossos alunos e conhecer um pouco mais para que a gente também possa ter os objetivos alcançados e os resultados esperados dentro de nossas disciplinas. Temos que ser conectados, ou pelo menos tentar nos conectarmos, com as músicas da moda, com as vestimentas, com os programas televisivos, e assim por diante.
Eu não posso simplesmente querer bater de frente com um aluno porque isso não dá resultado mais, gritos a maioria dos alunos já ouvem em casa e isso não resolve mais, isso não dá mais resultado. É preciso uma nova pedagogia, uma nova psicologia para nossos atuais clientes, pois um cliente insatisfeito é um problema que se cria.
Claramente não posso dizer que estou pronto para fazer todas as vontades de um aluno, mas preciso ter a consciência de que minha realidade de mundo não é a mesma que a dele, minha cultura não o pertence, meu mundo não é o mesmo mundo dele.
Preciso ser uma ponte entre os dois mundos, entre o mundo real e o mundo abstrato que cada adolescente cria para si. Podemos ser a resposta do silêncio de cada adolescente, pois sabemos que todos têm os seus dilemas, suas buscas e dúvidas, e podemos ser os caminhos que levem as soluções, ou parte delas, para que possam enxergar na educação um caminho não apenas de regras e deveres, mas também de direitos e necessidade.
Temos que despertar em nossos alunos o senso crítico, que é consumido e roubado a toda hora. Não existem fórmulas mágicas de conquistar os aluno, senão conquistar a confiança de cada um, e cada professor tem que encontrar um método, descobrir esse segredo e, acredito, ser a sinceridade o grande caminho para esse objetivo.
Jamais posso esquecer que meu tempo não é o tempo dele, e o mundo e as coisas do mundo são muito mais interessantes do que as coisas da escola, mas jamais posso desistir. Ainda mais quando não me resta saída, a não ser chegar ao sucesso, pois na maioria das salas em que entramos, a sensação de fracasso já está presente, e não posso cair nessa conformidade.
E ainda tenho que ter a percepção de que os próprios alunos demonstram os caminhos que devo seguir para chegar até eles, deixando bem claro a função dos dois papéis: aluno e professor.


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